O PODER QUE O CHORO TEM

“Quem não chora não mama...” já dizia a música, o que em poucas palavras ilustra muito da função do choro nas nossas vidas. Mas quando devemos atender ao choro das crianças?
    Acredito plenamente que uma mãe pode com muita precisão diferenciar os choros de seu filho logo após os primeiros dias de vida da criança, claro também sabemos o quão importante essa conexão entre choro e atenção da mãe pode ter sido de extremo valor pra que nossa espécie ainda exista. Imagine se os pais não fossem capazes de responderem ao pedido por alimento que seu recém-nascido emite em forma de choro? Talvez não estivéssemos aqui. Ou imagine que nunca verificassem a fraldinha suja, temperatura, posição ou eventuais dores quando o bebê chora? Ah, tenho certeza de que você ao ler essa hipótese já deve ter pensado: “que tipo de mãe ou pai faria isso?!” Portanto, até aqui concordamos sobre o quanto o choro é importante como UM dos primeiros meios de comunicação entre pais e filhos.
    Gostaria de dividir com vocês três situações para explicar meu ponto de vista, a primeira delas, claro, sobre quando o bebê nasce. É uma tarefa árdua para os pais começarem a decifrar que choro significa o quê, ainda me lembro de visitar o bebê de queridos amigos na maternidade, estávamos todos “babando” em cima do pequeno, e elogiando o quanto ele era calminho, o quanto ele era lindo, fofo... ops, uma pequena interrupção, em forma de que? De choro, claro. Devem ter se passado alguns segundos e o papai pegou o bebê na esperança de acalmá-lo... segura daqui, dali, muda de posição, mas nada ajudou. A mamãe estava a postos pra dar o leitinho, mas também não resolveu, até minha mãe (que há muito tempo não tinha que cuidar de bebezinhos) se ofereceu pra ajudar e pegar nosso queridinho porque ele talvez estivesse com cólica. Claro que a essa altura, você mãe ou pai experiente já mataram a charada, mas nós chamamos a enfermeira, que simplesmente o pegou com a maior naturalidade e segurança de alguém que já tinha entendido o recado: “ei, minha fralda está suja”. Sim, simples não?
    Esse é o problema, até que todo choro se torne simples, os pais já aprenderam com o pequeno ou pequena que toda atenção é válida, que todo gesto na tentativa de entendê-los e suprir suas necessidades realmente funcionam, uns melhor e mais rápido que outros, mas em geral, funcionam, fazendo com que o bebê pare de chorar. Sem mencionar o quanto você é boa mãe ou pai quando você se desdobra para ajudá-los. E agora vem o meu incômodo: até quando seu filho será bebê? Até quando você terá que ajudá-lo adivinhando e decifrando cada tom de choro? Até quando isso ajuda seu filho? E quando isso começa a prejudicá-lo?
    Agora, gostaria de colocar a segunda situação, um comentário que ouvi de uma mãe: “mas se ele chora, ele não está fazendo manha, ele não é uma criança manhosa, ele apenas precisa de alguma coisa e não consegue falar.” Como boa mãe e que conhece seu filho, ela estava certa, ele não é uma criança manhosa. E o que fazer então? Você dedicado pai ou dedicada mãe logo se inclina para perguntar: “o que foi meu amor? Diz pra mamãe/ papai, tá com dor? Está com fome? Não, não precisa chorar...” E claro que em meio a tudo isso você já pegou sua criança no colo, já colocou na frente dela todos os itens que poderiam fazê-la parar de chorar, ou pelo menos alegrá-la um pouquinho. E após alguns minutos, com sorte ela para de chorar.
    Nem sempre o fato de um choro não ser manha reflete a necessidade de que os pais resolvam os problemas para seus filhos, sei que é difícil colocar isso em prática depois de um ou dois anos aprendendo a ouvir o choro do seu bebê e resolvendo os problemas para ele e sendo o protetor, bom pai e boa mãe que tantos dias árduos de prática te levaram a ser.
    É neste ponto que se torna necessário confiar na capacidade que seu filho tem de aprender, independente do tipo de desenvolvimento que ele apresenta, dê a ele a chance de explorar seu potencial e fazer melhor. Por exemplo, uma criança que não consegue falar pode apontar, pode se comunicar por sinais, pode se comunicar por figuras. Claro que não estou sugerindo que você comece a ensinar e explorar o potencial do seu filho quando ele está chorando, mas quando ele chorar, pergunte-se: ele tem condições de fazer melhor? Se a resposta for positiva, ou quase: “ACHO que sim”, espere que a criança se acalme um pouco, ajude-a a se expressar ao invés de adivinhar o que ela precisa.
     Não se trata de falta de compaixão quando se deixa uma criança chorar, mas sim de confiar no potencial da criança que já está pronta para resolver pequenos problemas, mesmo que com certa ajuda.
Por último, para ilustrar que não estou defendendo que o choro seja sempre inapropriado, quero dividir esta história com vocês: a menina de nove anos começou a falar de forma agressiva com a mãe, ao mesmo tempo começou a chorar e a cada comentário da mãe vinha uma resposta afiada, a mãe muito firme, mas não exaltada pediu que ela fosse pro quarto se acalmar e disse que logo iria para o quarto conversar com a filha. Após cinco minutos, a menina estava soluçando e chorando ainda mais, a mãe perguntou: “você está pronta pra conversar ou precisa de alguns minutos?” claro que a resposta não foi amigável: “eu não quero falar com você! Eu estou brava com você!” A mãe se sentou na cama com certa distância e esperou que os soluços parassem e que ela se acalmasse um pouco (seria pedir demais que ela parasse totalmente de chorar). Então a mãe começou a perguntar: “você está cansada com tantas atividades?” Como resposta veio um sinal afirmativo com a cabeça. “Você gostaria de não precisar fazer o teste pra aula de música?” Outro sinal afirmativo. “Você está brava comigo ou você está nervosa com tantas coisas para fazer?” Uma palavra como resposta desta vez: “nervosa”. A mãe continuou: “tem algo que eu possa ajudar?” Agora um sinal negativo com a cabeça. “Você quer um abraço pra se acalmar ou prefere ficar um pouquinho sozinha?” A filha (ainda chorando) respondeu: “um abraço”.
Neste caso, o foco não era que a criança parasse de chorar, mas a mãe conseguiu ensinar a filha a identificar seus próprios sentimentos. Além disso, é um bom exemplo para lembrarmos que em alguns momentos, apesar de querer proteger seu filho da dor, muitas vezes você não poderá fazer nada para que ele pare de chorar e ele terá que lidar com isso.

    Por isso termino com um convite: que tal atribuir mais poder à capacidade que a criança tem em lidar com problemas do que ao choro em si?

LÍGIA ODA
FONTE:http://psicologiainfantilblog.blogspot.com.br

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